quarta-feira, 31 de março de 2010

A utilidade de estudar História

Imagine-se sem saber o nome dos seus avós e a origem de sua família. Sem nunca ter conhecido um livro música de antes de você nascer, não saber dos feitos do artista ou esportista que você admira, nunca ter ouvido falar dos pensadores e das idéias que são a base da sua filosofia de vida. Com certeza, muito do que você saberia sobre si mesmo também seria diferente.

Do mesmo modo que o indivíduo, os povos também precisam conhecer suas origens. Imagine uma nação que não sabe quem foi seu fundador, quem foram seus principais líderes, seus erros e acertos passados, quem escreveu seu código de leis e baseado no que ele os escreveu. A história não é uma coisa estagnada e irrelevante para o presente. Para o bem ou para o mal, o poder das palavras e feitos passados são decisivos na compreensão do mundo atual: basta observar alianças e conflitos entre muitos países para perceber que estão enraizadas em fatos de séculos ou milênios passados.

Como o estudo das leis da ciência permite compreender e prever como o universo funciona, a história permite entender o funcionamento das sociedades. Através deste entendimento, escolhas, poderes e julgamentos do presente podem ser contestados baseados nos precedentes do passado. Os povos que sofreram, por exemplo, com a escravidão, a ditadura, o holocausto, são exemplos para si e para o mundo de que isto jamais deve se repetir. Quando há uma mudança no código de leis ou no governo, desde em pequena escala até uma revolução, ela estará fundamentada tanto nas necessidades atuais quanto nos acontecimentos do passado.

A compreensão das próprias origens é parte da compreensão de si próprio. A organização e funcionamento da sociedade hoje são consequência direta dos acontecimentos do ontem. Não há como exercer ou contestar o poder sobre as massas sem entender, através da história, como ele funciona.

Quase não saiu post esse mês. Estudos, falta de inspiração e tempo online, enfim, desculpem. A idéia deste surgiu apenas ontem quando eu já estava "waargh o que eu vou postar!?" e, assistindo a TV Senado, um discurso de um senador cheio de referências históricas me lembrou do quando ela é importante. Agradecimentos de sempre aos meus amigos e às pessoas que acompanham o blog.

sexta-feira, 5 de março de 2010

O Diferencial das Histórias Japonesas

Um fã do gênero não diria que eu entendo muita coisa de histórias japonesas: e não mesmo, li poucos animes e mangás, joguei poucos games. Por outro lado, como Narrador de role playing games e me considerando um “fã de boas histórias”, sou capaz de distinguir algumas características que boa parte dos otakus pode não ter a sensibilidade de enxergar. Se você nunca se interessou por esse tipo de história ou nunca entendeu o que torna as animações orientais tão influentes no mundo do entretenimento, talvez este texto possa esclarecer algumas coisas também. Agora se você é fã de animes ou mangas, ou comics e seriados ocidentais, ou ambos, seu comentário é especialmente importante para aprimorar esta tese. De um modo geral, como sempre, espero que o texto seja proveitoso e agradável a todos.

Para não me tornar repetitivo, quero deixar uma coisa clara desde já: há exceções em ambos os gêneros, em todos os casos. Além de um número cada vez maior de histórias ocidentais se inspirando nas orientais, e vice-versa.

Personagens Humanos

Felizmente esta característica foi severamente atenuada nos últimos anos: a maioria dos antigos super-heróis não sentem medo ou insegurança, não se corrompem, não tem defeitos e são quase invencíveis se não por trapaça ou outro herói (se alguém falou em Super Man, ele também é moralmente perfeito, apenas Clark Kent é tímido, hesitante e um tipo de crítica pessoal à raça humana, e vencê-lo com kryptonita pra mim é trapaça). Os protagonistas de animes e mangás têm defeitos, ainda que exagerados como serem extremamente tímidos ou glutões, ou mais sombrios como ser um espadachim renegado tentando se redimir dos erros do passado. Essas características tornam os heróis japoneses falíveis como qualquer um de nós, o que acaba tornando a história – por mais estranha que seja – mais próxima do espectador. Não conheço ninguém que tenha chorado por um super-herói americano, que sobrevivem a tudo com seus músculos de aço e chavões heróicos, mas conheço dúzias de pessoas que se emocionaram, angustiaram ou sentiram uma alegria eufórica com algum anime, porque mesmo que seus protagonistas sejam extremamente poderosos, às vezes até alienígenas, andróides ou sobrenaturais, ainda são personagens mais “humanos”.

Continuidade

As séries ocidentais costumam seguir uma fórmula básica em todos os episódios: as coisas estão normais, surge um problema, o problema é resolvido durante o capítulo e as coisas voltam ao normal ao final deste, quando muito um problema se estende por dois capítulos, e geralmente esses são os mais memoráveis. Isso torna mais fácil vender a série, você não precisa ter visto os outros episódios para entender o daquela semana. Por outro lado há exemplos como os seriado 24 horas e Lost que escapam desse padrão, ou equilíbrios como Law & Order e Friends, todas séries muito bem-sucedidas.

Essa fórmula padrão tem a desvantagem de sacrificar muitas possibilidades. É raro que personagens recorrentes, aliados ou inimigos, de um episódio apareçam em outro, ou mesmo que um personagem parta, morra ou vá embora para sempre – novamente, quando isso acontece costuma ser muito emocionante. Além de deixar pouco espaço para que a história evolua, por conseqüências os personagens também têm pouco espaço para evoluir, com ocasionais exceções entre as temporadas. Sacrificar a continuidade da trama impede que experiências passadas afetem o futuro, tornando a história mais inverossímil e menos "saborosa”.

Poder Irresponsável

Esta é uma qualidade, do meu ponto de vista, negativa das histórias japonesas: quando monstros destruidores estão sob o comando de criancinhas ou robôs gigantes esmagam prédios e ninguém parece se importar. Como Tóquio ainda é a maior cidade do mundo sendo devastada por monstros e mechas toda semana? Nenhum exército quis recrutar os Digimons, o Pikachu nunca reclama do risco de queimaduras de terceiro grau e mutilações em troca de uma insígnia, o vovô Yugi não proíbe o neto de apostar a alma em jogos de cartas. O poder irresponsável das histórias japonesas é apelativo às crianças e adolescentes, por isso sua presença está na grande maioria voltada a este tipo de público. Os heróis de comics sofrem as conseqüências quando causam o caos e a destruição em lugares públicos, suas habilidades são visadas por organizações poderosas e eles precisam proteger a si e seus queridos com esconderijos e identidades secretas.

Fim!

Boas histórias têm começo, meio e fim. O final pode ser triste ou frustrante, mas deveria ser a parte mais emocionante da história: e se o Homem-Aranha finalmente derrotasse seus inimigos ou morresse tentando, se os mutantes finalmente decidissem a paz ou a guerra com os humanos? Depois de décadas, é esperado que as situações levantadas desde o começo tenham um parecer definitivo ou ao menos “temporariamente definitivo” (Gothan finalmente livre do Curinga, mesmo que isso não garanta a paz eterna da cidade ou nulifique as possibilidades do surgimento de novos vilões, heróis e histórias – NOVOS, nada de milagrosamente voltar com os antigos), seja esse final bom ou ruim. Apesar de sucesso de vendas de brinquedos e longa-metragens sem ordem cronológica definida, ao molde das histórias ocidentais, para muitos as constantes ressurreições de Dragon Ball estragaram a série, que teria ficado melhor se tivesse terminado em tal ponto conclusivo ao invés de “forçar” novas temporadas e ressurreições.

Entendo um pouco de histórias, mas quase nada de desenhos, senão arriscaria dizer também que os traços detalhados das comics são muito menos expressivos que os mangás. Esses pontos são pra mim o que une todas as histórias japonesas e já se sabe o que esperar quando se fala em anime, mesmo com histórias drasticamente diferentes. Não sei se por ponto de vista pessoal ou coincidência mas vejo muita semelhança entre este gênero e os RPGs (não sei de nenhuma inspiração dos criadores do RPG – norte-americanos – em histórias orientais), principalmente em continuidade e personagens humanos: em Caverna do Dragão, por sinal criada na década dos super-heróis invencíveis, todas as crianças ocasionalmente tem medo e atitudes covardes ou egoístas. Também por razões óbvias, histórias de RPG têm continuidade – sendo esse um dos principais atrativos e objetivos do jogo. A saber, Caverna do Dragão tem um fim, ainda que seja difícil de encontrar o roteiro original no meio de tantos boatos, mas o fato de o público ocidental acostumado a séries sem conclusão perguntarem por ele prova que é um gênero especial!

Espero ter ao menos lançado um olhar construtivo na compreensão de histórias de qualquer gênero e qualquer tipo, televisivas, literárias, cinema ou quadrinhos.


Este post é um complemento ao post sobre animes do blog do Luiz (o Lheofacker na lista dos recomendados). Dedico também a todos os fãs de animes e/ou comics, incluindo a Nany e a Helysa cujas opiniões valorizo muito e amizade gostaria de ter apesar de nos vermos quase nunca, a Heather que despertou meu interesse para uma série maravilhosa, a Isa, a Ana/Bia, a Danixan, a Ananda, a Vichy e o Andrey. Meu perfeccionismo vê uma enorme chaga porque fevereiro é o único mês com um post só, tento explicar com o carnaval (nem curto e mais tempo livre), com o dia a menos (e os outros vinte e sete dias?), mas a melhor é: antes não postar nada que postar lixo qualidade inferior. Alguém me diga que não tem problema!